O Andarilho
A casa estava cheia naquela noite... Muitos bebiam, outros dançavam e outros apenas conversavam em suas mesas. O garçom limpava os copos em um canto escuro atrás do balcão observando o movimento do lugar, quieto, como sempre ficava.
As portas se abriram, os pescoços se viraram... Não era ninguém de especial. Um homem não muito novo, mas também não muito velho forrado de panos sujos e rasgados e sacos mais sujos ainda, presos ao que parecia ser a única coisa que o livrava do frio. O que tinha dentro dos sacos? Era um duvida. Os passos eram lentos e arrastados, ele andava na direção do balcão, algumas mães afastavam suas crianças, algumas pessoas apenas encaravam a mesa tentando não olhá-lo... Algumas vozes diziam em um tom engraçado: “Ele demorou hoje.”
Ele apoiou as mãos cobertas por luvas negras de couro que deixavam os dedos descobertos sobre o balcão. O garçom olhou e balançou a cabeça pros lados, negando-o algo que ele parecia desejar muito... Ele abriu um sorriso. Algumas pessoas o olhavam da cabeça aos pés, talvez curiosas, talvez sentidas pela situação do homem... Era só mais uma sombra da noite e por mais estranho que ele fosse, sempre seria comum.
Ele aproximou-se de uma mesa farta, uma família comia silenciosamente... Passou a mão nos bolsos e disse, com o sorriso ainda estampado no rosto:
- Boa noite... Algum de vocês teria uma moeda para o andarilho? Eu vivo andando por aí.
A maioria balançou a cabeça pros lados, as mulheres sussurrando umas para as outras enquanto seguravam as crianças, outros olhando para os seus olhos amendoados e sorridentes. Até que um dos senhores pousou o copo de bebida na mesa e disse para encerrar o assunto:
- Não tenho nenhuma moeda hoje, senhor... Quem sabe outro dia?
O sorriso do andarilho se abriu mais ainda
- Dificilmente nos veremos novamente, meu senhor... Eu sou um andarilho, eu vivo andando por aí.
- Mas ora, até as pedras se encontram, não é o que dizem? – disse o homem sentado na mesa, apoiando um dos cotovelos na mesa.
- As pedras não se encontram. As pessoas mentem.
O homem sorriu, o andarilho olhou o grande frango servido na mesa e pediu um pedaço. Sabia que o homem não poderia dar a mesma desculpa duas vezes.
- Claro... Deixe o resto do pessoal se servir e eu mando alguém te entregar um pedaço, está certo?
- Certo... Vou esperar ali fora.
E lá se foi ele mais uma vez... Sentando-se no mesmo banco de rua, sentindo a mesma fome de todos os dias e vendo novamente todas as pessoas da mesa se levantarem e subirem em suas carroças... O prato de comida que lhe foi prometido? Mais uma vez não veio.
E lá se foi ele novamente, uma figura misteriosa vagando pela cidade, voltaria para o mesmo lugar em breve... Talvez em alguns dias, talvez em alguns meses... mas tudo o que ele queria agora era um lugar para dormir.
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Gente, esse foi um texto que eu fiz meio que na pressa... me desculpem se eu tiver vacilado, mas é isso... eu só queria mostrar mesmo.