Terkil

Não defina uma pessoa pelo o que ela faz, ou demonstra, mas sim pelo o que ela realmente é. Ah, algo difícil! Um nobre atira algumas moedas a um pobre coitado, e todos o vêem como um homem generoso e humanitário! Mas será que ele realmente é isso, ou queria apenas demonstrar? Complicado... A questão para mim é se podemos saber quem a pessoa realmente é, conhecer sua alma. Quem pode afirmar que aquele homem generoso não roubou aquelas moedas de alguma prostituta que agora jaz morta em algum beco? Palavras rudes! Mas, para mim, isso é sabedoria, conhecer os outros, e si mesmo. Saber “definir” as pessoas.

Por Dseyvar, por que escrevo isso agora? Acho que a resposta é uma: tédio. O cheiro de terra úmida e juncos já são normais, estou me habituando a esta caverna. O que eu tinha na cabeça? Estava escrito na placa “Ponto sem retorno”, e cá estou eu, com meu equipamento de lado, sentado no chão, escrevendo nas páginas de um livro com a pouca claridade que entra do buraco acima de mim. Bem que me avisaram para viajar com uma corda. Mas quem precisa de uma corda? Dizem que existe magia que faz você levitar! Subir paredes, buracos, enquanto eu fico atônito sempre que me curo com umas das magias mais simples, segundo um druida louco de Thais.

O que eu queria mesmo? Ah, claro, ser um herói! As vezes tenho que lembrar disso, e tentar continuar neste caminho. Faz quanto tempo que sai de lá? Dois anos? Talvez. Acho que sim. Preciso saber que dia é hoje. Mas dias são contados? Vamos recapitular. No dia de sair de casa, quis ser um herói, simplesmente, salvar donzelas, matar dragões, viver aventuras das quais os bardos cantariam durante mil anos! A teoria é simples, mas quando tentei na prática...

Cresci em North Port, uma comunidade de pescadores ao norte de Carlin. Meu pai era pescador, minha mãe vendia os peixes em Carlin, meu irmão também pescava... eu achava isso... não sei dizer bem... monótono talvez? Acho que simplesmente era sem futuro, automático, algo sem necessidade de inteligência ou raciocínio. Uma vez perguntei ao meu pai se eu não poderia aprender a ler, e ele me respondeu de uma forma que... eu esperava acho: “Ler não pega peixes, ler não bota comida na nossa mesa, conhece algum homem respeitável que lê? Só aqueles nobres preguiçosos e aqueles magos maricas. Olhe pra rede!” . Bem, na época eu não sabia o que eram nobres, muito menos magos, só sabia que eles faziam algo mais do que pegar peixes. Peixes. Peixes. Dês de que sai da casa nunca mais pesquei.

Quando fiz meus belos vinte verões, estava cansado disso, de acordar cedo, trabalhar, e ganhar pouco. Eu tinha uma espada, barata, muito barata, com várias mossas na lamina, e o botão havia caído... Então quando eu a girava ela voava... Mas nunca machuquei ninguém. Mesmo assim treinava com ela em alguns postes que havia plantado no chão. Meu pai achava a espada inútil, mas isso já era hábito: tudo que não tivesse relacionado ao trabalho era inútil. As vezes eu me perguntava se ele se divertia de algum modo, e se divertia sim, a moda dos homens: Cerveja e conversa. Outra coisa que não me atraia. Então nesse vigésimo verão, sai de casa, para ser um herói. Mudei meu nome, aquele nome rude que eu tinha, e troquei por outro. De Wyham passei a me chamar Terkil. Fiquem sem sobrenome, mas acho que meu pai também não tinha. Sobrenomes são para crianças de nascimento nobre, não pescadores.

Naquele dia acho que ouvi meu pai dizer a única coisa que realmente fez sentido, e às vezes quando durmo, o ouço gritar:
“Não seja estúpido, volte aqui agora! Você não pode ser nada! Um herói então? Você nem mesmo passou pelo portal das almas em Rookgaard!”

Por mil demônios, o que seria esse “portal das almas”? E “Rookgaard”? Quando sai de casa eu era leigo em tudo, conhecimento sobre hierarquias, comércio, luta, sobrevivência, e ser herói então? Era apenas uma vaga idéia para mim, que eu me agarrava, e me fez sair de casa. Eu não tinha a mínima idéia de como, mas sabia o que queria.

Não olhei para traz.

Fui ser um herói.

Ainda me lembro de meu primeiro combate. Por Dseyvar, comecei a conhecer como são as pessoas que andam pelas terras deste continente.

DIA 1

Droga, estou caminhando há quase um dia, e avistei algumas colinas. Fui ver o que havia lá e vi uma torre grande, como aquela que existe em Thais, e mais distante havia outra. Precipitei-me por uma entrada de uma caverna, que seguia estranha mente reta, como se tivesse sido escavada, e tinha uma escada de pedra. Subi com cuidado, mas lá estava escuro, então acendi uma das três tochas que havia comigo. Fiquei surpreso quando vi o chão um pouco sujo de algum tipo de gosma verde... Quando duas criaturas que pareciam besouros, mas maiores tentaram picar minha perna. Inicialmente fiquei assustado, mas consegui cravar minha espada barata em seu casco. Fiquei surpreso com a resistência deles, e precisei de quase três golpes para parti-los.

Desci dali, e continuei no corredor, que já estava escuro. Achei alguns morcegos que abati facilmente, e no fim havia uma escada, mas esta estava iluminada. Subi cautelosamente e cheguei no nível mais alto da colina, e sendo que havia outro nível ao sul de mim. Fui para o leste.

Me deparei com algo que me assustou. Um guerreiro com armadura completa, feita de um metal brilhante, e um elmo de mesma cor, e um escudo com um martelo, fora uma bela espada com lamina azul que se contorcia como uma serpente. Achei-o glorioso, e ao mesmo tempo corajoso, pois lutava com três criaturas de meio metro totalmente verdes! Comecei a correr em direção a elas, e ataquei freneticamente o primeiro, mas, para minha surpresa, ele se desviou com uma destreza espantosa. Comecei a golpear com força,com as duas mãos, mas a maioria dos meus golpes eram desperdiçados no ar. A criatura estranha começou a atirar pedras em mim, pedras! Criatura insolente! Cravei minha espada em seus olhos, mas ele, mesmo ferido, me golpeou com uma clava tosca de madeira, mas morreu com outro golpe desajeitado na garganta. Foi um golpe estranho, meio desajeitado, com o gume da espada, tentando fatiar seu pescoço, uma tentativa de decapitá-lo, mas como minha espada era velha e barata, conseguiu apenas fazer um corte nas suas veias. Algum sangue jorrou, a criatura deu um espasmo tentando segurar o ferimento, e morreu.

O poderoso guerreiro olhava para mim com um olhar divertido, e não entendia o porquê. Ele já havia facilmente mutilado os dois oponentes, e em um movimento rápido, estocou com sua incrível espada na altura do meu abdômen, e de algum modo desviei. Ele girou a espada outra vez, e eu, com minhas habilidades de guerreiro que treina com um poste, ergui minha espada em oposição ao seu golpe, e no entrechoque ela se partiu. Na verdade, ela foi cortada como se fosse feita de bambu, nem refreou o ataque de meu oponente, ferindo meu antebraço direito.

Nesse momento fui tomado pelo desespero. Joguei o escudo de lado e comecei a correr por onde vim, descendo aquela escada em que subi, e correndo, como um louco. O guerreiro estava atrás de mim, me acusando de ter matado seus monstros! Eu o ajudei! Talvez o tenha salvado! Ninguém luta com três oponentes. Quase rolei pela escadaria em que havia subido, e continuei a correr pela caverna em linha reta para a saída. Passei pela escada que dava para a caverna dos insetos gigantes, e quase na saída, um estranho com uma capa azul reluzente barra meu caminho. Seu chapéu era azul também, e pontudo. Suas calças eram estranhamente ornadas em ouro, e suas botas pareciam ser botas normais. Vi tudo isso pois me atirei aos seus pés pedindo por socorro. Ele entendeu o que acontecia, e ficou ali parado. Ele tinha à mão uma varinha verde, que começou a atirar algo contra o agressor, que começou a fazer o caminho inverso, e correr para a escada. O velho saiu da caverna, e pediu que eu saísse também. Ele tornou a entrar e, acho eu, perseguir o guerreiro.

Eu não vi nada, apenas me atirei no chão, exausto, sem espada nem escudo, e com um corte no braço. E sangrava muito.
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Em situações mais sociais.


Equipado para batalha.
(Imaginem ele com o rosto do primeiro, mas com o equipamento do segundo.)