Boa noite. Estou basicamente escrevendo uma releitura da obra de Daniel Defoe, Robinson Crusoé.
Queria trazer pra cá pra ver o que o pessoal acha de como tá ficando.
Não vou colocar todo o conteúdo aqui porque pretendo editar e vender futuramente.
O primeiro capítulo é quase uma introdução, um resumo da vida de Robinson antes do náufrago, então estará inteiro.
O resto são trechos dos outros capítulos.
Capítulo 1
Crusoé
- Spoiler:
Meu nome é Robinson Crusoé e talvez você já tenha ouvido a minha história. Bom, a maioria dos ingleses já ouviu, agora que já faz dez anos desde que voltei, e é claro que essa é só uma das aventuras que vivi em minha vida.
No entanto não estou aqui para contar minhas histórias menos conhecidas, talvez eu possa contá-las em outra ocasião. A história que quero contar agora se inicia em 1659, mas preciso voltar um pouco mais para que tudo possa ser entendido.
Nasci em 1632, em York, na Inglaterra. Quando minha família, Kreutzaner, chegou à Inglaterra, os ingleses rapidamente adaptaram meu sobrenome para Crusoé, de modo que depois de um tempo nós mesmos passamos a usar a adaptação.
Meu pai, um grande advogado e natural da Alemanha, sempre me instruiu a estudar para seguir a mesma carreira que ele. Talvez não suportasse a ideia de seu terceiro e último filho sair de casa como os dois primeiros. Meio irmão mais velho morrera na guerra quando combateu na Espanha e o outro não se sabe que fim levou.
É claro que todos os seus esforços foram em vão. No fim, eu acabaria me deixando levar pela minha sede de aventura. Lembro-me de sentar no cais e ver os navios irem e virem por horas.
Como todos no fundo já esperavam, saí de casa no dia 1º de setembro de 1651, esperando um dia voltar pra contar meus feitos aos meus pais e convencê-los de que tinha sido uma boa ideia partir. Nunca os vi novamente.
Naquele dia embarquei para Londres, tinha conseguido que um capitão me recrutasse para sua tripulação como ajudante de cozinha. O navio foi atingido por uma forte tempestade no meio da viagem, o que me deixou aterrorizado, mas de certa forma eu gostava de toda aquela adrenalina. Nos momentos de ápice da tempestade até eu devia sair da cozinha para ajudar no convés.
Naquela primeira viagem eu comecei a aprender a ser marujo. Bebi, joguei, conversei, fiz amizade com os outros membros da tripulação. Infelizmente, aquele navio não sobreviveu ao oitavo dia de viagem e todos teriam morrido se um outro barco menor não tivesse nos resgatado.
Quando chegamos a Londres, minha vida continuou uma série de aventuras. Eu tinha dinheiro, mas ele não duraria para sempre, então resolvi embarcar numa viagem para os lados da África. O capitão dizia que o lugar se chamava Guiné.
Sucedeu que me tornei amigo do capitão que me levou para a Guiné e juntos fizemos diversas viagens para lá. Gastávamos quase tudo com mercadorias inglesas e revendíamos por lá, de modo que rapidamente juntamos muito dinheiro.
Depois de algum tempo fazendo essas viagens e enriquecendo cada vez mais, o capitão adoeceu e foi substituído pelo imediato. Infelizmente isso pareceu nos trazer azar, porque quando fizemos outra expedição à Guiné nosso navio foi atacado por um monte de piratas. Alguns morreram, outros, como eu, foram feitos de escravos.
Servi de escravo por um ano ou dois, de modo que consegui confiança o suficiente do meu senhor para ir pescar somente na companhia de um de seus homens e outro escravo que se chamava Xiru. Ou seria Xuri? Não tenho certeza, algo desse gênero.
Eu e Xuri, que quase não nos entendíamos, uma vez que ele falava pouco inglês, partimos naquele pequeno barco, amedrontados com a ideia de encontrar pessoas.
Chegamos, enfim, à costa da África. Seguimos por ela até avistarmos um navio que nos resgatou. Era uma caravela portuguesa e seu capitão foi bondoso comigo e com Xiru. Levou-nos com eles até o Brasil, onde vivi por mais quatro anos. Lá consegui me estabilizar, comecei uma fazenda de tabaco e depois expandi para plantar café.
É claro que depois de quatro anos como fazendeiro eu acabei me envolvendo em outra aventura, no dia em que três homens me chamaram para fazer parte de algo secreto que ajudaria no desenvolvimento da minha fazenda.
Queriam partir, escondidos do governo, para a Guiné a fim de conseguir escravos negros. É claro que não pude resistir à oferta e parti em minha primeira viagem para tráfico negreiro. E também a última.
Parti no dia 1º de setembro de 1659, no ano em que minha aventura começou. Exatamente oito anos depois de sair de casa.
A viagem foi um sucesso exceto por um pequeno detalhe: naufragamos no meio do caminho e eu acabei sozinho numa ilha deserta.
Confuso? Deixe-me explicar melhor a história.
Capítulo 2
Náufrago
[...]
Enterrei meu rosto nas mãos. Era um simples cachorro, abanando o rabo e me olhando com aquele sorriso engraçado que os cachorros fazem o tempo todo com a língua pra fora.
Sentei na areia, quase rindo da minha própria tolice.
— Então estamos no mesmo barco, hein? — e me repreendi pela piada horrível.
Ele respondeu um simples “woof” que foi bastante significativo naquele momento de solidão.
— Você não saberia onde tem um bom lugar para eu me abrigar, né? — ele não respondeu ¬— Hum, claro que não. Afinal, chegamos juntos, não é mesmo?
Comecei a desistir de fazer perguntas ao cão. No navio costumávamos chama-lo de Ricardo, então resolvi manter o nome. Não é lá um bom nome, pensando bem, mas fazer o quê?
— Certo, Ricardo, melhor ficarmos juntos. Venha, vamos andar pela ilha e procurar outro abrigo.
E assim o fizemos. Fomos andando por uma espécie de bosque que ia se transformando numa floresta sobre um terreno irregular. Estávamos chegando ao coração da ilha, onde o chão era duro e as árvores começavam a ficar mais escassas novamente.
O caminho ficou íngreme e cheio de pedras. Ricardo subia aquilo com mais facilidade do que eu, até que a subida se tornou, subitamente, plana.
Havíamos chegado a um platô, ao que parecia. Ele se estendia como uma planície gramada até a única montanha da ilha, onde a subida era ainda mais íngreme. Na base daquela rocha, única e sólida, havia uma entrada para uma caverna.
— Ricardo, venha ver isso!
Meu novo companheiro chegou ao nível em que eu chegara, arfando como os cachorros fazem o tempo todo, e olhou para a montanha.
¬— Aquela caverna deve ser um ótimo abrigo, mas estou receoso. Deve ser habitada por algum urso ou coisa do tipo. O que acha?
Dessa vez não houve latido de resposta. Imaginei que fosse um bom sinal e comecei a andar. Quando estava mais perto da caverna, mais ou menos a cem metros dela, peguei uma pedra do chão e arremessei.
Ela bateu na parede da caverna e entrou. Nada.
Joguei outra. Nada.
Arremessei uma terceira e observei a escuridão do abrigo, subitamente percebendo um vulto e soube que definitivamente havia algo ali. Ricardo também notou e começou a latir, estávamos a cinquenta metros agora.
— Quieto, Ricardo, não nos denuncie! — mas era tarde demais.
Daquele belo esconderijo saiu o que eu mais temia. Quase dois metros de comprimento, talvez uns cinquenta centímetros de altura. Garras e dentes afiados e um olhar raivoso acompanhado de pelagem marrom escura, quase cinza.
O urso gritou, grasnou, uivou ou seja lá o barulho que fazem os ursos.
Busquei no meu cinto o revólver que carregava e me certifiquei que estava carregado e percebi que minhas mãos tremiam.
O urso gritou de novo. Mandei Ricardo se afastar e apontei a arma para o bicho enorme.
Três “bangues” quebraram o silêncio absoluto da ilha e fizeram pássaros empoleirados em árvores próximas saírem voando.
Eu não era tão bom assim de pontaria, admito, mas acertei todos os tiros no bicho, dois na altura dos ombros e o terceiro na cabeça. Eu estava tentando mirar no mesmo lugar, mas minhas mãos tremiam e acertei um dos olhos sem querer.
A criatura caiu no chão, morta, e Ricardo latiu bastante ao meu lado. Não por animação, creio, mas os barulhos devem tê-lo agitado um bocado.
[...]