Quem é Iles Galt?

Por muito tempo, acordei cedo para engraxar minhas velhas botas e me dirigir ao meu posto na defesa da cidade. Eu realmente amei meu trabalho. E era bom nisso, capaz de derrotar um guerreiro orc sofrendo poucos arranhões, o que costumava fazer sempre que as coisas pareciam tranquilas demais. Claro que estou falando de pessoas normais, como você e eu, não dos grandes heróis que vemos passar com suas armaduras brilhantes e cajados luminosos. Estes pertencem a outra categoria de homens. Ou será que não?

Então os orcs vieram com tudo e o que parecia mais um dia de sorte em meu trabalho revelou minha própria mediocridade. Enquanto limpava o sangue fedorento da lâmina de meu machado - eu nunca confiei na leveza e nos movimentos complexos das espadas que a Guarda nos fornecia -, fui empurrado por um jovem cavaleiro que saqueava os cadáveres. Decerto acreditava que eu seria um concorrente, visto que o campo de batalha estava repleto de outros abutres. Enquanto recuperava o equilíbrio, me perguntei se era este tipo de pessoa por quem eu deveria arriscar meu pescoço, alguém incapaz de desembolsar um vintém para ajudar ao próximo e que agora sacrificava a própria dignidade saqueando orcs.

Mas era para isto que eu estava sendo pago, afinal tanto um bom profissional quanto um bom cidadão deve ajudar aqueles que precisam. Mas aqueles delinquentes realmente precisavam de ajuda? Eu não precisei, e olhe que não tive as oportunidades que a maioria deles tiveram.

Questionar o que estavam fazendo com a própria vida fez com que eu questionasse a minha própria. Minha vida era a melhor das vidas possíveis? Porque o ponto alto dos meus dias era desbravar território orc e debelar seus ataques à cidade? Porque o fato de ser habilidoso, ou destemido, colocava em meus ombros a responsabilidade de zelar por quem escolhia acomodar-se?

O resultado de tantas perguntas foi meu desligamento da Guarda Real. E no momento em que pus os pés fora da caserna, olhei o céu estrelado e pela primeira vez me senti verdadeiramente livre. Livre para conquistar a plenitude de minha existência, livre de uma moral que obriga homens excelentes a servir homens medíocres. E principalmente, livre para encontrar pessoas que respeitem desejos e individualidade própria, e a de outrem.

É por isto que estou aqui. Vou para onde desejo, realizo o meu trabalho da melhor forma, e no ritmo que me convém. Ajudo aqueles que são merecedores, e destes recebo apoio. E é por isto que estou aqui. Por que seus olhos me dizem que você está cansado da hipocrisia, de se esconder na sombra da mediocridade, de ser considerado "arrogante" e ser explorado por não desejar menos do que a excelência.