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 Meridya.

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Samuel
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Samuel



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MensagemAssunto: Meridya.   Meridya. EmptySáb Jun 01, 2013 9:29 pm

1

Dizem que uma marca profunda surge em nossos corações quando perdemos algo que amamos.
Primeiro, vem a dor... Tão intensa e incômoda que nos deixa estáticos, distantes da realidade e totalmente indiferentes aos sentidos, dormimos acordados, nossos olhos não focam muito bem e nossa mente se torna totalmente embotada. Em seguida vem o despertar do entendimento, o acordar do transe macio que a mente usa para nos proteger do impacto, da dor e do medo. E quando finalmente estamos curados, decidimos o caminho que devemos seguir, e é esse caminho que, muita das vezes, traça o nosso destino.

Ela vagava a esmo pelas ruas. Duas semanas já tinham se passado desde a luta na taverna, e suas roupas não passavam de trapos sujos e toscamente remendados. Estava magra, não sentia disposição para mendigar - e muito menos para roubar - , suas mãos estavam feridas e a febre queimava-lhe por dentro. Ouvia o rolar das carroças nas ruas de carlin, o zumbido incessante das conversas: Ouro, prata, rainha, cavaleiros de thais, bandidos no deserto. Passava a maior parte de seu tempo sentada na beira de uma viela escura, segurando sua adaga no colo e pensando no que iria fazer. Lembrava-se do irmão, da maldita galinha que tinha roubado e do bêbado que tinha matado. A cena se repetia em sua mente, varias e varias vezes até que ela caísse no sono, e quando isso acontecia, as imagens voltavam em forma de sonho, mais reais e mais dolorosas.

- Eu o matei. Matei-o e ele nunca mais sairá do frio da terra. Será comido pelos vermes, isso não é suficiente? Por que isso não é o suficiente?!... - Sussurrava, sentindo a força esvair-se lentamente de seu corpo.

Levantou-se aos tropeços e cambaleou pelas ruas de Carlin... As pessoas já tinham ido para suas casas, o que deixava as ruas desertas e assustadoras. Arrastou-se pela rua principal, apoiando-se nas paredes de pedra e nos tijolos. Tossia, sentindo o mundo girar ao seu redor e as sombras ficarem cada vez mais escuras. Avistou um cão em pé, com a boca dentro de uma lixeira ao lado de uma casa e aproximou-se o mais rápido que pode, atirando uma pedra pontuda no animal, enfiando a mão dentro do lixo e pegando algumas sobras de jantar. Segurou um pão duro e redondo que tinha sido comido pela metade, uma garrafa com dois dedos de cerveja e um pequeno saquinho rasgado de biscoitos.

Comeu aquilo tudo sem prestar muita atenção... Julgou que não tinha nada muito estragado, já que o lixo não estava ali tempo o suficiente para que isso acontecesse, e em seguida virou a garrafa de cerveja de uma só vez, o que a fez vomitar boa parte do que comeu. Guardou a garrafa dentro do saquinho de biscoitos rasgados e já ia voltando pela rua quando viu um vulto deslizando pelas paredes de pedra. Sentiu o coração disparar e apertou o passo rumo á viela. Já estava quase chegando quando sentiu um par de mãos apertarem seus ombros, levantando-a do chão e fazendo-a soltar a garrafa, que se espatifou no chão da rua. O homem fedia a álcool, era magro, tinha uma barba escura e levemente longa. Usava uma armadura de couro e tinha uma adaga curvada enfiada na cintura. Ela queria gritar, mas sabia que isso não era uma boa ideia. Tentou chutar o homem, rosnando e arfando, até que ele a segurou com mais força e a sacudiu brutalmente.

- Fique quieta, sua vadiazinha! Eu poderia ter te matado, poderia ter cortado esta sua linda garganta num piscar de olhos. Mas o que eu fiz? Deixei você viva...E agora você está aqui, vivinha da silva, por minha causa. Viva o herói! - E soltou uma risada cruel, sacudindo-a novamente - Você não acha me deve um favor, hã? Eu salvei sua vida, honradíssima donzela de Carlin. Você tem dinheiro para pagar por meus serviços? Aposto que não. Mas há outras maneiras de se pagar...

O homem apertou sua garganta e arrastou-a para a viela mais próxima, jogou-a no chão e começou a rasgar suas roupas. O desespero apertava o peito da garota, cada vez mais forte... Era como um punho fechado em volta de seu coração, fazendo seu corpo enrijecer-se por completo e sua mente ficar cada vez mais confusa e embotada. Tentou pegar a adaga, mas o homem segurou sua mão e jogou o metal para longe, fazendo o aço tintilar na viela... Era o fim, pensou. Talvez merecesse aquilo, um pagamento por todos os crimes que já cometera, por ter deixado o irmão morrer, por tudo... E então de repente uma mão enluvada segurou o topo da cabeça do homem e puxou-a para trás, enquanto a outra raspava o aço da faca prateada em sua garganta. O sangue quente choveu sobre o corpo da menina enquanto o homem se engasgava com o próprio sangue, e então ela começou a gritar. O homem jogou o corpo do bêbado para o lado e levantou-a bruscamente, tapando sua boca com a mão... Ele tinha um cheiro estranho, algo que lembrava uma taverna de madeira, com boas bebidas... Ou até mesmo os pinheiros das florestas do norte. Ele apertou ao mão em volta da boca da garota e apertou-a levemente contra a parede, olhando-a nos olhos:

- Shhh, criança. Não queremos mais mortes por hoje, queremos? Você está com febre, faminta e em perigo... Posso te ajudar, mas primeiro diga-me seu nome. - Sua voz era firme e risonha ao mesmo tempo, ele falava como se achasse aquilo tudo muito divertido... Como um jogador prestes a ganhar um jogo.

- M-Me... Meridya, senhor. - Mentiu ela, engolindo em seco, sentindo o medo, a raiva e a febre queimarem dentro de si.















__________________________

Uma historinha pra animar isso aqui... Ninguém vai ler mesmo, então foda-se.
E isso aqui vai ser usado pra coisas em in. Em Neptera. Quem tiver interessado ou sei lá, só me procurar depois.


Última edição por Samuel em Qui Jun 27, 2013 10:34 am, editado 1 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: Meridya.   Meridya. EmptyQua Jun 12, 2013 7:01 pm

Muito boa,
eu quero
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Samuel
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MensagemAssunto: Re: Meridya.   Meridya. EmptyQui Jun 27, 2013 10:26 am

2

O cadáver se estendia pálido sob a poça de seu próprio sangue. 
É aqui que a história começa, mesmo que este não seja um começo tão apropriado assim. Talvez tenha sido nesta noite - enquanto obervava um cadáver sujo e fedido estatelado no chão - que a menina começara a abrir os olhos para o mundo. 

O herói da noite aproximou-se após ouvir o nome da menina:
- Há quantos dias que não come, criança? Quantos dias fazem que não toma um banho? 
- Muitos, senhor.
- Defina "muitos".
- Mais de sete, senhor. 

Ela estava imunda. Quando saudável, a menina conseguia jogar uma água no corpo em algum barril de água de esquina ou, quando ousava mais, rastejava pelas ruas para tomar banho em algum braço de água que corria pelas proximidades de Carlin. 
Uma crosta de sujeira tinha se formado ao redor dela, e sua pele que antes era branca e macia agora estava preta de sujeira. Os cabelos ruivos-amarronzados estavam duros demais, longos demais e oleosos demais.  

- Sete. - refletiu o homem - Sete Deuses cruéis para sete dias sem banho. Você é uma garota de fé? Acredita na Tíblia e em seus ensinamentos? 
- Não, senhor. - Respondeu com a voz morta, seu olhar estava perdido na escuridão da viela. 
- Não tem medo da escuridão, como as outras crianças? Não gostaria da proteção divina contra os homens perversos? Não tem medo, menina?
- Não, senhor. 
- Por que, menina adorável? Porque desafia os deuses, temendo mais a própria ira do que a deles? -Sua voz soou suave e risonha, com um leve tom de curiosidade. Parecia ter gostado do jeito da menina.
- Porque fantasmas não conhecem o medo, e os deuses não conhecem os fantasmas. 

O homem abriu um sorriso fino, parecia ter sido pego de surpresa. Ele tinha uma barba fina contornando o rosto, seus olhos eram amendoados e sua pele era levemente acobreada. Usava um chapéu consideravelmente longo que escondia seus cabelos negros e suas roupas eram de linho fino, levemente rasgadas e desbotadas em alguns pontos. Usava uma camiseta simples e verde sobre uma calça bege e grossa. No cinto carregava um par de adagas - uma delas manchada de sangue - e um pequeno cantil. 

- E se eu lhe oferecesse treinamento, menina adorável? E se eu lhe oferecesse um lar, com pessoas alegres, palhaços e malabaristas, uma casa em que aprenderia a alegrar com suas artes, deixando para trás o amargo do passado. Confiaria no histrião? Iria com ele para as terras além da relva?

A menina que dizia se chamar Meridya olhou fundo nos olhos do homem, ofegando e sentindo-se nauseada por causa da febre alta. Estaria olhando para alguém digno de confiança? Se recusasse a proposta, o que seria dela? Sobreviveria mais uma noite naquelas condições? 

- Ficaria feliz em ir, senhor. 


A menina amanheceu dormindo na traseira de uma velha carruagem. A madeira estalava a cada buraco na estrada,e o homem que a salvara segurava a rédea dos cavalos e assobiava canções durante todo o caminho. Ela dormia sobre um monte de palha coberto por seda grossa, estava quente, limpa e vestida com roupas decentes. 
Durante todo o caminho, ela sonhou em sua febre... Sonhou com riachos e gigantes de pedra, com animais falantes e brincadeiras á luz do luar; com roupas limpas e comidas deliciosas.  Sonhou também com o riso coletivo de uma família e com aquela energia boa que vem das pessoas que nos amam.  
Sonhou seus sonhos de criança, afinal, era isso o que era. 


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