Diário de Nemo Daynn e a última aventura de sua vida
Autoria Nemo Daynn, Transcrição Flora Hollowpin
Dia 3
Estamos vagando por estas cavernas pelo que parecem dias. Não encontramos nada mais surpreendente que túneis que acabam em lugar nenhum. É escuro, mas a escuridão ilumina o caminho. A companhia familiar é reconfortante. Eu mudei muito nos últimos anos, mais do que de fato era possível. Agora, mesmo perdido em cavernas desconhecidas e úmidas, me sinto em paz. Tentei fazer um mapa desta imensidão, mas logo desisti. É impossível!
Dia 4
São túneis cavados, não naturais. A água se enfia por entre as rochas das paredes e do teto, pingando, escorrendo e empoçando o chão. Parece um bom lugar para plantar cogumelos, mas não sei porquê estou falando isso. Falta adubo. Não mais. Encontrar o caminho é difícil e desgastante, mas seguir é fácil. Não se precisa pensar para seguir, é um trabalho quase mecânico. Então, eu e meu “amigo” nos revezamos entre encontrar o caminho e seguir.
Dia 5
Bem, como não há maneira de medir o tempo aqui embaixo, estou atribuindo os dias aos capítulos do diário arbitrariamente. Não se guie fielmente por eles. Estes túneis devem se estender pelo subterrâneo do mundo inteiro, são imensos. É decepcionante não encontrar o que viemos procurar, mais decepcionante ainda não encontrar nada. Encontramos algo! É uma parede de energia bloqueando o túnel à nossa frente. Não sabemos para quê ela serve. Quem construiu este lugar, e porquê? Por fim, não conseguimos nada com a tal parede e seguimos por outro caminho.
Dia 7
Os túneis me surpreenderam com uma armadilha escondida numa alavanca. Havia uma placa, com instruções de puxar a alavanca. Quem fez isso queria intrusos mortos, não há mais dúvida. Às vezes desconfio que os túneis são vivos e se movem. Já tomamos vários caminhos diferentes e voltamos muitas vezes ao mesmo lugar. Me lembro de histórias sobre labirintos que mudavam, hoje acredito nelas. Não falamos nada durante muito tempo. Foi um período solitário. Seria muito fácil enlouquecer, sozinho aqui.
Dia 8
Se quer conhecer bem uma pessoa, perca-se com ela em um túnel. Falamos sobre planos para o futuro, riqueza, uma casa pacata no litoral, uma mesa farta, e garotas bonitas. Durante o resto do dia, pareceu que íamos encontrar tudo isso na próxima curva.
Dia 9
Maze of Lost Souls, é um nome adequado. Não lembro mais da luz do sol, da coceira do capim, do canto dos pássaros. Estou me transformando num ser das profundezas. Imagino que devemos começar a procurar nosso caminho de volta logo, os suprimentos estão pela metade.
Dia 10
Finalmente encontramos criaturas! Elas tentaram nos matar, mas se estavam ali, era um bom sinal. Vida sempre é um bom sinal em lugares como este. Espero que o destino não faça eu me arrepender de ter escrito estas palavras.
Dia 11
O inferno existe!! Sa [ Ver notas da transcritora ]
Dia 13
Não posso expressar meu contentamento em palavras num papel. Ou o medo que se seguiu, de não conseguirmos sair vivos de lá e acabarmos como os cadáveres dos que vieram antes. Sim, estavam estirados no chão, ouvíamos o lamento de suas almas que nunca descansaram em paz. Quem dera tivéssemos um guia. Se sairmos vivos daqui, juro a todos os deuses que vou transcrever este diário para um livro e advertir todos que consideram entrar em Maze of Lost Souls.
Dia perto do fim
Nossos suprimentos estão acabando. Duramos mais que o planejado porque água potável é abundante aqui, mas comida e sanidade não. Se não acharmos a saída em breve, seremos mais um par de almas fazendo juz ao nome.
O fim
Saímos vivos e conseguimos o que precisávamos. Precisamos ser rápidos. Como prometido, vou doar este diário à biblioteca de Thais, e espero que ele seja útil a alguém. Espero ter deixado um legado.
Epílogo
Me despeço com um último conselho: Antes de embarcar em aventuras mortais, sempre pense na sua vida, e em como tudo sempre pode piorar. Lembre-se dos seus sonhos, e de como eles se desvanecem. Pense nos seus arrependimentos, e em como este pode ser mais um. Lembre da vida, de que ela finda como a luz de uma vela.
Notas da transcritora
Este diário me foi entregue pessoalmente por Nemo no dia seguinte ao que, segundo ele, completou sua viagem. Porém, após aquele dia, ninguém mais teve notícias do Sr. Nemo. Ao folhear as páginas, percebi uma mancha de sangue fresco maculando o capítulo 8.
Uma análise mais detalhada provou que alguns trechos do diário haviam sido removidos. Talvez fossem detalhes muito pessoais, escritos num diário ainda exclusivamente pessoal, talvez haja por trás desse sujeito mais mistério do que os olhos podem ver.
Contudo, O Diário de Nemo Daynn é indiscutivelmente um material valioso para aventureiros de toda sorte, e eu, assim como ele, acredito que servirá bem a todos que buscam alguma experiência antes de grandes empreitadas.
Ass.: Flora Hollowpin