Alguns escritos do passado, bem como seus comentários.
Confissões
I
Tenho a alma confusa de um outro,
E o corpo perdido de um pária.
Vomitando uma poesia sectária,
Me arrasto como se estivesse morto.
Minha vida seguindo a passos tortos,
Questionando sua própria irrelevância,
Existência forjada na inconstância,
De surgir, sem razão, em atos doutos.
Enquanto lanço a torto e a direito,
Travestidos por uma falsa modéstia,
Estes versos horrivelmente feitos,
Convencendo alguém que sou poeta,
A mentira arranca de meu peito,
O pedaço de ser que ainda me resta!
II
Quando faço as malas de mim mesmo,
O Sonhar me envia sua fagulha.
Fragmentos inspirados de penúria,
Chego a crer que não estou a esmo.
Mas o Tempo, inclemente, e seu desprezo,
Me arrebata consigo, à realidade:
Mesmo armado contra a Mediocridade,
Não terei, em minha vida, algum sossego.
Pois além de uma vida de momentos,
Do fulgor filosófico à sobriedade,
Do furor jovial ao desalento,
Falta-me o principal, a habilidade,
De tornar-me patente no elenco,
Dos que amam, e que buscam sua Verdade.
Comentário: ridículo, mas ainda gosto dele.
* * *
Discurso sobre-o-médio
Minhas mãos trêmulas acusam minha sede de cachaça
– Embriagado, logo o tempo passa.
Minha visão se torna gradativamente escassa
– Minha vida se torna a cada dia mais sem graça...
E a cada instante perco em minha vida opções:
Cotidiano, fútil e carente de razões
(e emoções: há muito que não há revoluções):
Eu me perdi no abismo das medíocres convenções...
Tenho problemas de toda natureza, vinculados à mesma circunstância/ Quero dar as costas ao rebanho, pelo menos por um dia inteiro/ E mesmo que o caixa depois não registre retorno financeiro/ Hei de solucioná-los, afirmando minha relevância/ Peço aos deuses de todas as crenças uma luz, por menor que seja/ Peço aos homens que nascem e que morrem a menor das verdades/ Quando surge em minha mente uma fagulha de realidade/ Não consigo fazê-la queimar para que o mundo a veja/ Mergulho em todos os livros e na solidão do asceta/ E a cada instante, um passo é dado contra meus domínios/ Infinitas pessoas, cada uma com seus raciocínios/ Se colocam à minha frente, obstruindo minha mente aberta.
Tenho problemas de toda natureza, vinculados à mesma circunstância/ Quero dar as costas ao rebanho, pelo menos por um dia inteiro/ E mesmo que o caixa depois não registre retorno financeiro/ Hei de solucioná-los, afirmando minha relevância/ Nego o Deus de suas crenças que exibe divina torpeza/ Nego os homens que nascem e que morrem sem a menor das verdades/ Regurgito a ofertada fatia do bolo da felicidade/ A viver à sombra do Quixote prefiro a tristeza/ Desconstruo seu método, demonstrando o quanto estou alerta/ Cada instante me ocorre a certeza de seu breve declínio/ Infinitas idéias, ligadas em meu vaticínio/ Ao medíocre vigente, anuncio sua morte certa.
Comentário: Letra "encomendada" por meu grande amigo
Jalu Maranhão; infelizmente seguimos por caminhos diferentes, e minha maldita indiferença impede-me de ir ao seu encontro. Eu nem a leio mais; sei que está carregada de um romantismo que me dá asco. O título brinca com a polissemia da palavra "sobre": o discurso em questão pode
abordar o médio ou
colocar-se acima do mesmo
* * *
Estudos sobre o Amor
A Ortega y Gasset
II
Obscuro é o ser de minha empresa,
Descrever o que sinto no real.
Entretanto, um grilhão conceitual,
Me acorrenta à esfera da incerteza.
Espontâneo, manifesto em natureza,
Ou acessível nos orbes do ideal.
De uma forma ou de outra, no final,
Eu acabo sofrendo, sem defesa.
Por que uns têm-no fácil em seu viver,
Ou ao menos em seu febril discurso,
Quando alguns são fadados a saber
Que jamais viverão os seus impulsos?
E nem terão palavras para dizer
Porque os deuses negaram-lhe recursos.
Comentário: Emo, mas ainda gosto.
* * *
Frio e calculista: esse é o (baixíssimo) preço que pago pela racionalidade. Retórico. O Pragmatismo foi uma das atitudes mais coerentes em 2500 anos de pensamento ocidental. Hipócrita: agradeço todos os dias por isso, assim ninguém pode me exigir nada. Tenho discursos bonitinhos para cada ocasião, mas não me importo em praticá-los. Diferente de mim, Descartes ainda precisava de Deus. Os discursos não possuem sentido, e a linguagem é só um instrumento. Se você procura coerência nessas linhas, esqueça: mantenho-a somente para mim, e sempre há a possibilidade de estar mentindo. Egoísta. Odeio o pessimismo; se eu fosse pessimista já estaria morto. Mentira: sou um covarde, e nunca abriria mão de desperdiçar os parcos recursos naturais de nosso planeta. Odeio autopiedade. Escrevo para mim, e para mim apenas: um exercício de narcisismo literário. As vivências são as únicas coisas de que tenho certeza (?). Não culpo ninguém, todos somos vítimas das circunstâncias. “Tudo pode nesse mundo real”. Cínico. Esqueçam tudo que eu falei e busquem a verdade – é evidente que ela pode ser encontrada aqui, como em qualquer outro lugar. Tudo é jogo de linguagem e pode ser encarado como um “ismo”. O homem é um parasita que atribui complexidade aos próprios grunhidos.
Comentário: Meu primeiro "Quem sou eu", no
Orkut; Ah,
hipocrisia misantropia benfazeja!
* * *
MistérioUm vazio se forma em minha mente
Quando dou-me a pensar sobre esse tema;
Como ouso escrever como poema,
Algo que não me é claro e evidente?
Mesmo não havendo precedentes,
Continuo a traçar o estranho esquema
De escrever até que tal problema
De minha confusa alma se ausente.
E o mistério persiste nos tercetos,
A despeito de quanto for traçado.
Pelo visto, não nesse soneto,
Meu problema será explicitado,
Pois termino as linhas sem ter dito,
Uma coisa do que tem me atormentado!
Comentário: Nenhum.
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[Sem Título]Diante de um altar metafísico,
ofereço a ti meu último sacrifício.
Tendo nas mãos um bisturi analítico,
corto fora o que me torna estéril e insípido,
corto fora o que me impede concluir meus escritos...
Hei de viver poeticamente!
Hei de fazer valer minhas palavras
decerto instigadas pela aguardente!
Decerto inspiradas pelo presente instante,
também quero dizer-te que de agora em diante,
terás minha vigília no resto dos meus anos.
Ah, agora tenho coragem para dizer que te amo.
Versos pobres, pobres versos!
Não conseguem adaptar-se a meu eu-confesso...
Direi o nome daquela que não mais deixarei!
Espera que outro brinde arrebate-me a timidez!
(Ah, mais libações desse dionisíaco absinto!
Que em instantes chamar-se-á "nada sinto"!)
Agora, como última prece,
Antes de pôr meu velho nome subscrito
(que até ontem por outras era guardado).
Farei com que perdure o Indeterminado,
e assim direi o que ainda não foi dito!
Comentário: Essa fez bastante sucesso entre as feministas de merda gatinhas culturais do Burburinho, pseudo intelectuais do CFCH/UFPE e vagabundos drogados músicos das adjacências.