O Diário de Émile Galt

Meu nome é Émile Galt, tenho sete anos, e seguindo a recomendação do senhor Greenarrow, este é meu primeiro apontamento. Devo registrar aqui todas as coisas interessantes que eu aprender durante minha estadia neste lugar.

Rookgaard me parece um lugar agradável, assim como as pessoas que conheci. Após o desembarque, passei a noite no abrigo do senhor Fuentes, que é pescador; em troca da estadia, ele me fez perseguir e esmagar as baratas do seu porão. Foi cansativo, mas gostei de meu primeiro dia.

A senhora Zirella foi a segunda pessoa que conheci. Ela me fez recolher lenha, e me deu algumas ferramentas. A principal coisa que aprendi foi que meu esforço sempre trará algum tipo de recompensa.

Ainda não sei o que dizer sobre o que me aconteceu, passei dias importunando o sacerdote Asralius e o bibliotecário Seymour até encontrar as palavras certas: eu morri por alguns instantes.

Nem meus novos preceptores puderam me explicar direito; tudo que sabem é que um xamã orc tem raptado os habitantes da ilha, sendo eu sua vítima mais recente. Foi tudo muito rápido: tudo escureceu e de repente eu estava numa caverna, apavorado. Corri daquela pessoa monstruosa que aparecia e desaparecia, me ameaçando, e me deparei com um monstro gigantesco que me perseguiu e me lançou no chão.

Todo o medo, toda a dor desapareceram. Eu queria chorar, mas não conseguia, era só o vazio, a escuridão, o silêncio, que se foram antes que eu pudesse me acostumar. Despertei no templo local, nos braços de Asralius, e não consegui pensar com clareza, nem mesmo entender o que as pessoas falavam por alguns dias. Então o medo deu lugar à curiosidade, e tenho tentado aprender ao máximo sobre o que aconteceu.

Aprendi que quando morremos prematuramente, os deuses nos enviam de volta. Mas sempre perdemos parte de nós mesmos no processo. Rezo todos os dias para que isto não me aconteça mais, e apesar de entender o que aconteceu, continuo com medo.

Decidi ajudar Vascalir a deter o xamã orc, cujo nome não sei soletrar. Ele não pode mais atacar as pessoas desse jeito.

Além de Vascalir, outras pessoas têm ajudado bastante no meu aprendizado. O armeiro Obi, sua neta barulhenta Dixi, a curandeira Lily. Carlos me deu roupas adequadas à minha nova vida, e me ensinou a ganhar algum dinheiro caçando. Mas não vou machucar criaturas indefesas sem uma boa razão.

Amanhã começarei a leitura dos clássicos com Seymour. Estou ansioso!

Os dias passam rápido quando não temos tempo para pensar sobre eles. Tenho explorado cada bosque e cada caverna desta ilha, seguindo cada rumor. Confesso que minhas aventuras tem sido mais interessantes do que livros e partituras, mas sei que mesmo os momentos mais maçantes são valiosos para minha formação.

Explorei cavernas, violei criptas, encontrei trolls e orcs, até conversei com um deles. Aprendi a cozinhar, explorei a zona oeste da cidade, pertencente à nobreza. Trabalhei duro e até juntei algum dinheiro. Os anos tem sido benevolentes comigo, Dixi costuma dizer. É uma ótima garota, gosto quando comemos juntos no terraço de sua loja.

Tenho me tornado mais confiante quanto às minhas habilidades. Acredito que em breve poderei pôr em prática o plano de Vascalir.

É difícil acreditar que nove anos se passaram tão rapidamente. Não sou mais aquele garoto que hesitava diante de tudo: meus mestres cumpriram perfeitamente seu ofício e meu treinamento hoje revelou minhas virtudes.

Li tudo que surgiu diante dos meus olhos, escrevi relatórios e poemas apaixonados; penetrei covis e suas bibliotecas secretas em busca de novos nomes para as coisas do mundo. Brandi minha espada contra toda sorte de inimigos, mas fui cuidadoso a ponto de ludibriar os mais poderosos, e ousado a ponto de estabelecer conversas com os mais astutos. Aprendi a apreciar a arte mais complexa, e a enxergar beleza na flor perdida na densa floresta.

Aprimorei meu trato social e conquistei melhor das pessoas; aprendi a sutileza e as palavras certas para vê-las satisfazendo meus caprichos. E o mais importante: aprendi que mesmo o homem mais vil, a jovem mais imprudente e o senhor mais insensível desejam ser ouvidos e respeitados. Às vezes grandes homens se escondem sob as máscaras mais atrozes, cabe a cada um de nós fazê-los revelar-se.

O mais importante é que a ameaça de Kraknaknork foi finalmente detida. Custou-me bastante tempo recolher elementos para tornar real nosso estratagema, mas a busca pelos mesmos garantiu-me o principal: a coragem para me infiltrar na fortaleza inimiga, superar sua vantagem numérica e fazer justiça. Fui suficientemente discreto para envenenar a refeição do inimigo e aguardar, paciente, o momento certo de desafiá-lo. Deixo este lugar com a sensação de dever cumprido.

Esta foi a maior de minhas lições: grandes inimigos não devem ser desafiados diretamente. A engenhosidade sempre será a melhor arma contra o mal supremo.

Espero que os próximos dois anos na Ilha do Destino passem tão rápido quanto os últimos. Sentirei falta de Seymour, Vascalir, Amber e todos os outros. E Dixi, cujo sorriso é a maior recompensa ao final de uma aventura.

É a ela que dedico cada um dos meus feitos neste lugar.