Deuses
"Se nunca antes vos vistes
Em sonho, miragem ou luar
Se pensava que não existes
Minha certeza está a mudar
De vocês, nada recebi
De vocês, somente vazio
De vocês, nem sombra vi
Sem vocês, viver consigo
Mas começo a me perguntar
Será que eu, jovem Dragão
Em vosso nome posso matar?
Porque se a vossa resposta for não
Dane-se Crunor, Fardos e Fafnar
Eu continuarei sem vossos nomes então"
Já amanhecia em Thais: os pássaros cantavam, como de costume, bocejos podiam se ouvir. Na ala sul da cidade, os moradores reclamavam de dois homens - eles suporam que fossem viajantes, pelo teor da conversa - que discutiam sobre a inquisição, uma instituição que ficava na região. Irritados com as intromissões, os homens foram em direção ao prédio e deram sossego à vizinhança.
Entraram no prédio, um deles meio desconfiado, o outro não demonstrava nenhum sentimento. Se apresentaram como Bernaer e Dragão, respectivamente, o guarda da entrada franziu o cenho quando o segundo homem se apresentou com o nome de uma besta, mas o homem rapidamente acrescentou secamente que era apenas um apelido.
Os dois desceram até a sala da inquisição, onde Henricus, seu líder, fitava os prisioneiros, entediado. Deu um pulo quando viu os dois homens entrando e, ao se apresentarem, ele abriu um largo sorriso perguntando se eram recrutas. Os homens confirmaram e rapidamente ganharam a primeira missão: questionar os guardas da cidade.
Ao sairem da inquisição a cidade de Thais já havia acordado e dessa forma puderam conversar sem intromissões. Quem estivesse ali para ouvir, descobriria que não foram razões divinas que os fizeram entrar na inquisição. Eles pretendiam se infiltrar na instituição e conseguir ganhos próprios na caça aos magos que eventualmente achariam nesse trabalho. Depois da breve conversa, se apressaram e foram fazer sua missão.
Dragão: Melhor.Primeiro foram até Walter, perguntaram se havia problemas na cidade. Ele disse que desconfiava que havia um ladrão e que as autoridades provavelmente iam tomar conta dele em breve. Não era possível evitar aquele problema, afinal não podia-se julgar quem era um ladrão e quem não era pela aparência e ele não podia simplesmente fechar os portões para todos na cidade... Walter não era um herege, de forma alguma.
Dragão: Bom rapaz...Seguiram então para Kulag. Mesmo irritado e burro - Kulag tinha inveja dos aventureiros da cidade - ele era um bom guarda.
Dragão: Idiota.Seguiram para Tim. Ele disse que os únicos problemas dele eram a escova de dentes perdida e, diante da imbecilidade que a missão vinha se mostrando, Dragão já pensava que entrar na inquisição teria sido mesmo útil.
Dragão: Pelo menos um que não é retardado...Foram para Grof e ele disse que seu único problema era a roupa na lavanderia que poderia se molhar com o temperal que vinha. Ele tratou de afugentar os inquisitores, como um bom guarda deveria fazer. Pelo menos aquele não era retardado.
Dragão: Esse pelo menos é inteligente...Foram para Miles, que impaciente com eles, disse que tudo estava bem, obrigado. Poupou-lhes trabalho e Dragão, se fosse escolher um dos guardas, com certeza escolheria aquele. Voltaram para Henricus e reportaram que tinham feito como mandado.
Em seguida, pediram uma nova missão. Henricus sorriu feliz e disse que eles deveriam contiuar com o bom trabalho. Revelou que o novo trabalho envolvia bruxas, um caldeirão mágico e um grimório com feitiços poderosos.
Dragão: Bruxas? Eu ficarei muito grato em fazer esse trabalho, Henricus.Era o que Dragão esperava. Ele poderia conseguir o grimório das bruxas e utilizá-lo, para somente depois entregar para Henricus. Um raio de felicidade o iluminou e uma vontade de rir da estupidez do inquisitor chefe, que passara essa missão logo para ele.
Dragão: Ele citou um grimório, haha... Isso pode ser muito útilO mago estava extremamente interessado naquele grimório.
Chamou Bernaer e eles decidiram prosseguir. Compraram algumas poções e foram em direção às colinas Femur, onde Uzon os levaria para o covil das bruxas.
Ao chegar no local, perceberam que seria uma tarefa difícil: conseguiam ver inúmeras bruxas do local onde estavam. Resolveram arriscar e, sem pensar muito, travaram uma batalha onde os monstros levaram a melhor, Dragão, totalmente queimado pelos raios, subiu pela escada quase morrendo e só foi curado porque seu comparsa estava com uma poção em mãos.
Entretanto, ao tentarem uma nova investida, Bernaer acabou sendo ferido demais e acabou usando um feitiço para voltar a um local seguro. Sem crer na volta do companheiro, Dragão foi de pouco em pouco minando as defesas das bruxas, matando algumas e inclusive destruindo seu caldeirão.
Foi com surpresa que viu Bernaer, já recuperado e munido de outras poções e suprimentos, pronto para ajudá-lo. Juntos, promoveram uma grande investida e, dessa vez de forma mais organizada, pareciam estar vencendo a batalha.
Dragão: Caiam sob desgraça!As bruxas já tinham sido derrotadas. Só faltavam alguns mortos vivos e Dragão praguejou contra eles, que demoram a ser derrotados.
Dragão: Sucedemos.A batalha estava vencida. Eles resolveram procurar o grimório e o acharam em uma caixa empoleirada, escondida no fundo da casa dos feiticeiros. Dragão mal podia acreditar que tinha aquele artefado de poder nas mãos.
Dragão: Você foi valoroso, Bernaer.O mago tinha que admitir: Bernaer tinha sido de muita utilidade, e naquela hora ele tinha percebido que ótima escolha tinha feito em escolhê-lo como parceiro.
Dragão abriu o grimório e um sopro agitou-lhe os cabelos. Não podia lê-lo agora, mas só a presença daquele livro já o fazia sentir-se mais forte.
Créditos: Thomaz, pelo belo soneto.