Cinco Anos Atrás (Pt. 1)
Edward Stille, também conhecido como Puzzlemaster. Começando como um simples detetive em uma cidade pequena, Edward rapidamente ficou famoso por suas habilidades únicas de dedução. Ele conseguia resolver qualquer caso em uma questão de poucos dias. Sua fama rapidamente se espalhou por todo o país, até começar a se envolver em casos internacionais, aparecia em manchetes de jornais todos os dias. Nós viajávamos por diversos países, principalmente após a morte de Helen Stille, minha mãe.
Porém um dia, toda a fama de Edward acabou... o caso era o assassinato do multimilionário David Schwartz. Ele trabalhava no ramo das artes, e possuía diversos museus por toda a França, exatamente o tipo de caso que Edward trabalharia. Ainda lembro de quando entramos naquela galeria, as faixas de polícia fechando a entrada, o corpo estava no hall de entrada, uma enorme mancha de sangue no chão abaixo de David, sem vida. Essa imagem chocaria a maior parte dos adolescentes de 16 anos, mas eu já estava acostumado a ver aquilo com o meu pai. Ele se agaixou, e colocando uma luva examinava o corpo.
Eu prestava atenção ao nosso redor. O ramo de detetive era perigoso, lembro que meu pai sempre dizia "Você deve sempre prestar atenção e estar alerta a tudo. Pense sempre em todos como os possíveis assassinos. Eles podem tentar te matar a qualquer momento." O hall daquela galeria era bem grande, o chão era de mármore branco, era tão limpo que você podia ver até mesmo o teto com suas luzes quase cegantes refletido nele. Uma grande escadaria para o andar onde ficavam as pinturas era oposta a grande entrada, com pesadas portas de madeira esculpidas. As colunas eram no estilo romano, com alguns detalhes em ouro pela sua extensão. Se não fosse pelo corpo caído no chão, esse seria um belo local. Eu voltava minha atenção novamente para o corpo.
- Nada... - Meu pai se levantava, acendendo um cigarro, era um péssimo hábito dele mas eu nunca havia visto ele fumar em uma cena de crime antes. - Eu vou precisar dos detalhes quando a autópsia for feita. Então... qual foi a obra que sumiu?
- "
Il Sacerdote", de Giupetto Rossi, um artista italiano não muito conhecido... - O homem ao qual meu pai se dirigiu respondia. Ele usava um elegante terno preto, além de uma cartola, era Augustin Mallery, o curador do museu. - Na verdade essa é a única obra valiosa dele.
Eu já sabia o que meu pai estava pensando naquele momento, era bem óbvio. O assassino provavelmente só queria matar David, e levou uma obra aleatória pra parecer um roubo. Por azar acabou levando uma obra quase desconhecida, e foi exatamente o que meu pai disse para o curador logo em seguida. Pelo procedimento padrão, pediu o endereço e um número de contato com o homem, então saímos do museu, andando lentamente pelo estacionamento até o nosso carro.
- Então... - Ele se dirigia a mim dessa vez. - O que você acha, Garrett?
- Exatamente a mesma coisa que o senhor pai. - Sorria para ele, nos aproximando do carro. - Na verdade eu pensei naquilo antes do senhor falar. Já estou melhorando muito nesse ramo de detetive.
Eu via ele dar um longo suspiro, balançando a cabeça negativamente antes de entrarmos no carro, eu ouvia o barulho do motor conforme o carro ligava e saía por uma rua lateral do museu.
- É uma linha de raciocínio válida filho, mas não foi isso que aconteceu aqui. - Ele olhava para mim com aquele sorriso sarcástico, como o de alguém que sabe algo que você não sabe, ele adorava fazer isso antes de revelar como tinha descoberto a verdade. - Já falei muitas vezes que você não deve ir para o local despreparado. É óbvio que eu pensei em um roubo muito antes de sequer entrar naquele museu. Por isso li todo o registro dos últimos dois anos da movimentação das obras dentro dele. "
Il Sacerdote" saiu da exibição três dias atrás para restauração.
Logo eu já entendia tudo. Se a obra não estava em exposição, não haveria como roubar ela aleatoriamente. Quem quer que seja o assassino, estava realmente atrás da obra. E de uma obra específica.
- David estava apenas no local errado... provavelmente pegou o assassino roubando...
- Novamente você está se precipitando, filho... - O carro parava em um sinal vermelho. - Pense novamente na obra. Ela não estava em exposição, e o curador do museu sabia disso. - Tudo se iluminava na minha mente em um lampejo. - Então é óbvio que ele nunca poderia aceitar a teoria de que foi roubada uma obra aleatória.
- O assassino é o curador... ele que estava atrás da obra.
- Sim. Provavelmente ele foi informado de alguma peculiaridade da obra durante a restauração, algo que o interessou muito, o suficiente para trair o seu patrão e amigo de anos. - O carro parava na frente de uma enorme mansão, meu pai saía do carro, eu saía logo em seguida, olhando pra ele. - Essa é a mansão de Augustin. Tenho certeza que encontraremos a obra aqui se procurarmos.
Eu me impressionava com a velocidade e simplicidade com a qual o meu pai havia resolvido aquele caso. O mordomo de Augustin nos deixou entrar na mansão assim que meu pai mostrou o papel com o endereço, escrito pelo próprio Augustin. Era padrão pedir o endereço, mas normalmente o detetive que escrevia. Era incrível perceber como ele pensou antes em tudo.
Na busca dentro da mansão achamos a obra escondida dentro de um fundo falso no armário no quarto de Augustin. Algumas horas depois ele já estava preso, e meu pai se dirigia até a principal delegacia de Paris, onde receberia o prêmio e honrarias por resolver mais um caso. Ele tinha se arrumado com um terno novo, comprado especialmente para a ocasião, nunca tinha visto meu pai tão bem vestido. Saiu me deixando sozinho no quarto do hotel.
Não presenciei o que aconteceu após isso, mas nunca me esquecerei de como meu pai contou a história. Na delegacia, ao invés de ser recebido com honra pelo chefe de polícia de Paris, o que ele encontra é Augustin Mallery, com uma expressão como de ódio, olhava para ele do outro lado da sala. Do lado dele estava o mordomo. Algemado.
- O que está acontecendo aqui? - Meu pai perguntou surpreso com a cena.
- Você errou, Edward. - Era o que dizia o chefe de polícia. - Augustin não roubou a obra, e nem matou David.
- Foi tudo culpa dele. - Augustin apontava para o mordomo, olhando a ele com um rosto com mais ódio ainda do que o rosto que olhou para Edward. - Ele matou David e roubou aquele quadro!
- Isso é ridículo. - Meu pai se virou para o chefe de polícia, era um homem um pouco gordo, que mal cabia naquele terno marrom apertado. - Por favor senhor, você não quer qu...
- Sim... fui eu que matei David. - O mordomo disse, interrompendo. - Ele não tinha o direito de ficar com a pintura do meu bisavô. E nem vocês tem! - O rosto de meu pai ficou em choque ao ouvir aquelas palavras.
- É verdade, detetive Edward. Esse homem é Placido Rossi, bisneto de Giupetto. Ele disse que David roubou o quadro da família dele.
- O quadro foi a única coisa valiosa que meu bisavô conseguiu criar! E aquele homem roubou ele da minha família!
- E como você invadiu o museu? - Meu pai perguntava, estava aflito, mas não queria perder a compostura.
- Ele forçou David a abrir para ele e levar até a sala onde o quadro estava. Depois executou ele no hall a sangue frio... com a arma que achamos jogada no esgoto da mansão. Provavelmente onde ele escondeu. - O chefe de polícia fazia uma pausa. - Nós já conferimos tudo, detetive Edward, e foi isso o que aconteceu. Achamos também cabelo e impressões digitais do mordomo no casaco de David. Sinto muito lhe informar, mas você errou.
Meu pai nunca me disse o que ele fez depois disso, mas só voltou para casa quando era de manhã no dia seguinte. Todas as manchetes de jornal contavam sobre o erro dele. As pessoas não mais confiavam nele como o detetive infalível, e pouco a pouco ele foi recebendo menos casos.
Algum tempo depois nos mudamos para Gale Valley, uma pequena cidade na Inglaterra, quase desconhecida pela maioria das pessoas. Lá vivia apenas gente com bastante dinheiro para gastar, e que queria ficar longe do público. Com o dinheiro que tinha acumulado durante o tempo como detetive de sucesso, meu pai conseguiu nos manter em Gale Valley por bastante tempo, até conseguir estabelecer um outro escritório de investigação, usando um nome falso.
Com o tempo, já estavamos resolvendo pequenos casos na cidade, e o novo nome de meu pai começava a ficar famoso. Mas foi então que tudo começou denovo... após ELE aparecer...