Eu fiquei meio perdido em relação a o que fazer para tu Esdras, então eu escrevi um texto do dia em que o Trevor estava conversando com Alcaparra e entrou para a tripulação. Espero que goste:
Inhame
Um dia de sol intenso. A ilha borbulhava no oceano. Fafnar parecia ter raiva dos arruaceiros. O cheiro de peixe podre castigava o olfato, mas eles não ligavam. Aquele que fizesse qualquer reclamação não era forte o bastante para estar ali. Selvagens. Os piratas não tinham o direito de reclamar da vida que escolheram, a maioria estava ali porque queria e qualquer que fosse o motivo da opção por esse caminho, eles deveriam arcar com as conseqüências.
Encostado em um barril encontrava-se um senhor de olhos claros, cabelos brancos e pele já muito atingida pela insolação. Um de seus braços terminava apenas em dois dedos, os outros três haviam sido mastigados por um crocodilo, pelo menos era o que ele dizia. Sua voz estava bêbada, talvez por esvaziar o décimo quinto copo de rum. Décimo sexto.
- Cê, sabi, companheiro. Tem oro lá. Eu sei qui – um soluço interrompeu sua colocação. Ele se recompôs, soltou um generoso arroto e prosseguiu – Eu sei qui tem oro no continente.
Do outro lado, encostado em uma parede encontrava-se um sujeito mais jovem com uma cicatriz no rosto.
- Como tem certeza, Theodoro?
- Oxi, não tá vendo esses mapas, amigo? Eles vão levar nóis para o tesouro grande – interrompeu com um soluço rápido – Dá uma olhada. Tão assinados e tudo mais. Que que tá escrito aqui embaixo?
- Eu também não sei.
Os dois olharam para os desenhos e o silêncio percorreu aquele diálogo. Theodoro ficou observando os mapas em sua mão. Girou de cabeça para baixo, trouxe para longe da vista para talvez enxergar melhor devido a um problema de visão que ele não fazia idéia que tinha e parou de mexer neles quando derrubou um pouco de rum, borrando a tinta de um dos papéis.
- Isso num é prova o bastante pra você, Trévo?
Trevor, olhou para Theodoro por alguns instantes, mas não disse nada. O senhor voltou a falar:
- Pensa só - virou o resto do rum de seu décimo sétimo copo – lugar novo, um monte de mulhé nova. Cê sabe, num to falando daquelas muié sem dente que a gente vê nos putero daqui. Tô falando daquelas muié cheirosa, de pele lisa e macia. Fico arrepiado só de pensar, espia – e levantou o braço para mostrar os pêlos eriçados – Eu quero sair dessa ilha, aqui só tem pirata fia-da-puta que só quer te ver morto e robar sua grana. Só tem cretino que quer te ver fudido. Tô juntano um pessoal legal pra saí daqui. Pra curtir o continente e juntar um dinheiro – e encheu o copo.
- E como vamos? Já tá tudo certo?
- Craro que tá. Nóis já tem um jeito de ir, cozinheiro e um homi da viola. Cê quer mais o quê?
- E por que você me escolheu para fazer parte da sua tripulação?
- Te conheço faz tempo, Trévo, e sei que cê não gosta daqui. Até já foi dar umas volta pro lado de lá. Tô te chamando pra vir, cumpadre. Cê vai gostar. O pessoal é festero, gente boa e não tem ninhum desgraçado no meu navio. Juro pelo meu dedo mastigado pelo crocodilo.
O homem permaneceu sério como desde o começo da conversa, mas acabou por sorrir.
- Eu tô dentro, Theodoro.
- Assim que se fala, marujo. Agora cê faz parte da gente – e andou em direção ao recém tripulante para um abraço cheirando a álcool – Vem comigo. Vou te mostrar o pessoal.
Theodoro enrolou os mapas, colocou-os debaixo das axilas, jogou o copo de rum no chão. Passou os braços sobre o ombro de Trevor e foi puxando-o em direção a uma pequena casa com um intenso barulho vindo de dentro. Quando chegou a porta, soltou o marujo do abraço e abriu-a bruscamente. O som parou e todos olharam para as duas silhuetas do lado de fora do estabelecimento.
- Vamo comemorá que nóis temo um novo marujo!
Os piratas gritaram, brindaram os copos e a música tocou mais alta do que antes.
Theodoro puxou Trevor para uma mesa grande com uns outros dois piratas e gritou para um outro que estava perto de um caldeirão no fogo:
- Que que tem pro rango, Mandioca?
O pirata se virou e respondeu com sotaque forte:
- Hoy tenieremos Suepa Surpriesa do Gusmão!– e veio trazendo dois pratos cheios de um líquido amarelo com alguns pedaços sólidos coloridos em suspensão e algumas gotas de óleo. Botou-os sobre a mesa com duas colheres.
- Hoji o negócio tá bom dimais – e começou a dar colheradas na sopa, tomando-a com vontade.
Trevor olhou o prato e retirou com a ponta dos dedos um grande fio de cabelo.
- Ei, tem um cabelo na minha sopa!
Gastão se aproximou de Trevor e disse-lhe enquanto apoiava a mão em seu ombro:
- Usted tieve suerte!. Uno fio de cabejo do saco de gusmão non é lo pior que tiene na suepa sorpresa!
A música estava animadora, o rum ótimo e a sopa comestível.