Matt Ybel.
Bem, eu não sei exatamente como se começa a escrever uma
história... Mas vou começar falando um pouco de mim.
Chamo-me Matt Ybel,
filho de Julit T. Ybel e de Margarida Tarelion, nasci em um vilarejo pobre do
sul, perto de Thais ou Venore, sou péssimo com localizações.
Bem, quando criança, uns três ou quatro anos, dane-se a
idade. Ganhei uma serpente de presente do meu avô. Ele presenteava todos os
netos com um animal de estimação, Ele falava que toda criança precisava de um
animal de estimação para desenvolver afeto, carinho e blábláblá. Na verdade
eram duas serpentes, uma pra mim e outra para a pessoa que eu mais gostava...
Minha mãe comprou uma gaiola para todos os meus irmãos e uma para ela na
expectativa de ganhar uma serpente Esverdeada puro-sangue, puff, jogaram
dinheiro fora. Por mais que eu gostasse da minha mãe e dos meus irmãos, tinha
uma pessoa que me alegrava mais e era também a única que estava sempre perto de
mim...
Dei minha serpente
para Judy Basckwitz, minha melhor amiga e a garota mais bonita que eu já vi em
toda minha vida... Pele branca como leite, cabelos ruivos como fogo... As
bochechas eram cobertas por sardas, era como se Banor tivesse feito-a no papel
mais puro, com as tintas mais caras do continente. Andávamos sempre juntos, eu
era um garoto baixo e magro na época, meus cabelos eram negros e andavam sempre
altos e bagunçados, meus braços eram finos e eu mal conseguia tocar em uma
espada. Zombavam muito de mim por isso, muito mesmo. Chamavam-me de Suja-botas
(Só a mim, não tinham coragem de falar isso pros meus irmãos que já tinham 1,80
com 14 anos de idade.), diziam que meu futuro era pisar em cocô de cabra, mas
não importava Judy sempre estava lá para me defender. Haha. Lembro-me bem da
ultima vez, estávamos voltando do celeiro quando Andy Greenhorn esbarrou em mim
propositalmente e depois me deu um empurrão, eu pedi desculpas mesmo sem ter
feito nada, mas ele continuou a me xingar e xingar (Coisa típica dos Greenhorn,
gordos filhos da puta.). Foi interrompido quando a bota esquerda da Judy entrou
no meio das pernas gordas e sujas dele, atingindo as bolas em cheio. Eu acho
que nunca ouvi um grito tão alto na minha vida, eu tomei uma surra quando
cheguei em casa, Judy deve ter apanhado também, afinal, ela era uma dama, e
damas não brigavam com gordos no meio da rua. Mas dane-se cara, foi engraçado.
Judy era filha do senhor Walter Basckwitz, a família dela
vivia de uma pequena criação de gado, acordavam cedo todos os dias para vender
o leite, faziam queijos, tortas e biscoitos.
Os pais de Judy eram rudes com a criação das filhas. Judy
era a mais nova de quatro meninas , todas passavam muito tempo lendo e
escrevendo, aprendiam dança e canto também, aprendeu a recitar poesias com
cinco anos, aos sete já sabia mais matemática que as irmãs mais velhas... Os
pais da Judy diziam que não queriam ver as filhas sendo obrigadas a cozinharem
para um camponês em troca de um teto, as meninas eram criadas para ganharem o
mundo. Judy me disse uma vez que não queria ser uma dama quando crescesse, disse
que queria ser poeta, ela até fez uma canção pra mim uma vez, apesar de estar
começando a escrever, as palavras soaram divinas aos meus ouvidos... Ela
cantou-a pra mim. Se me lembro bem, a canção era mais ou menos assim:
Quando o SolTímido se esconder.No horizonteSempre esperarei vocêNão importaSe é inverno ou verãoVocê vai estarSempre no meu coraçãoNão importaSe faz frio ou calorSempre estareiCurando a sua dor.E quando os medosBaterem à sua portaLembre de mimA voz que te conforta.E quando o solSe erguer lá no céuVou lembrarDa canção do Matt
Ybel....De todas as irmãs, Judy era a mais legal. Ela era decidida e
tinha certo fogo no olhar, as irmãs dela meio que a repreendiam por isso, mas
ela não dava a mínima. Ela sabia que todas as irmãs eram quietas e tímidas
apenas na frente dos pais. Lembro-me bem da vez que ela me puxou pelo braço e
me levou sorrateiramente até o pé do muro da vila pra ver a irmã mais velha
namorando um arruaceiro... Ta, o cara era bonito, tinha um cavalo negro e uma
espada que brilhava mais que a lua, mas aquilo lá deve ter sido roubado de um
vendedor ambulante qualquer por aí.
Minha família, bem... Minha família se sustentava com um rebanho
de carneiros, a maioria dos garotos (meus irmãos, primos e o caralho) tinha o
sonho de virarem pastores de ovelhas quando chegassem à idade adulta, tudo por
causa do meu bisavô, dizem que ele podia falar com os animais, e que só bastava
um olhar para que todas as ovelhas parassem, recuassem e prosseguissem.
O caralho! Não acho que isso seja verdade, dizem que meu avô
fumava muito cachimbo também, ou ele tava colocando bosta de vaca no fumo ou
tava levando as ovelhas pra comerem maconha nos pastos do vizinho. Às vezes eu
acho que nasci no meio de um bando de retardados que acreditam em toda merda
que entra nos ouvidos. Sou o mais novo de cinco irmãos, tive problemas ao
nascer, as parteiras disseram que eu poderia perder o movimento das pernas e
tal... Ainda bem que não perdi. Eu sou o menor dos meus irmãos, meu irmão mais
velho caçava ursos quando tinha a minha idade, e eu até hoje não sei segurar
uma espada direito. Pretendo aprender esgrima algum dia e voltar pro vilarejo,
chutar a bunda de todos eles e rir da cara de suas esposas, Haha.
Voltando ao assunto, eu comecei a gostar da Judy, era a
única pessoa com quem eu podia conversar como gente, sem ter que ficar berrando
e fazendo gestos com as mãos. Ela me ensinou a ler e eu a ensinei a pescar e a
tocar um rebanho, ela era obrigada a escrever todos os dias e eu era obrigado a
tocar o rebanho também. Meus irmãos eram idiotas, mas eram idiotas grandes e
fortes, por isso eu tinha que fazer a minha parte e a parte deles às vezes,
foda-se também, mais experiência pra mim.
Judy conseguia fazer o meu mundo girar, eu gostava de ver o
nosso reflexo na beira do rio, gostava do perfume dela, gostava do jeito como
ela sorria...
Os tempos em que corríamos pelos campos fugindo das
obrigações, deitávamos ao ar livre e contávamos histórias um para o outro,
lembro também dos nossos “quases”, Troca de olhares, mãos que se esbarravam e
bochechas corando após cada gesto... Judy era a única garota com quem eu
pensava em me casar, imaginava como seriam os nossos filhos, talvez pequenos
garotos ruivos e valentes que não teriam medo da vida.
Tempo... Maldito tempo. Tão bonito e tão filho da puta como
uma sereia nua cantando sobre uma rocha, pronta pra te seduzir e depois te
estrangular com uma alga. Quando Judy completou quinze anos, seus pais
obrigaram-na a ir estudar fora, Carlin talvez, eles não disseram para onde ela
ia, sabiam que se eu soubesse eu iria atrás. Os pais da Judy não me tratavam
mal, mas sempre me lançavam um olhar de repreensão por eu andar com a filha
deles... Afinal, não queriam misturar o leite com cocô de cabra. Eu juro que
fiz de tudo pra convencer os meus a me matricularem também, mas o que a Judy tinha me ensinado não era o
suficiente, e eu meus pais não queriam quebrar a tradição dos filhos Suja-botas.
Fui a casa dela, decidi que deveria tomar coragem pelo menos uma vez na vida e
dizer tudo o que eu sentia, falar sobre como meu coração acelerava quando ela
chegava, de como minha cabeça se apertava a cada troca de olhares e de como as
borboletas faziam rinhas dentro do meu estomago cada vez que ela sorria...
Adentrei o quarto, ela estava fechando a mala, pronta pra
partir... Bem, eu fiquei parado como uma mula na soleira da porta, olhando
fixamente pra ela... Ela não parecia feliz, mas também não parecia tão triste
quanto esperei que ela ficasse... Ela sabia que se ficasse ali não teria outro
futuro alem de casar com um porco qualquer que o pai dela escolheria em troca
de algumas dezenas de vacas.
Abri minha boca, as palavras estavam de braços e pernas
abertas, pareciam rasgar minha garganta, mas mesmo assim, consegui falar:
- Judy eu te...
Droga, droga! Ela virou o rosto pra mim, aqueles olhos
castanhos e inocentes que me faziam perder o rumo desde que eu era criança
cumpriram seu trabalho mais uma vez...
- Eu te desejo uma boa viagem. - Consegui falar enquanto
abaixava a cabeça.
Sim, você deve estar pensando: Que cara mais idiota, era só
falar que amava ela e pronto! Mas não, não era só falar que amava e pronto...
Foram anos e anos de amizade, ela conhecia todos os meus
segredos e eu conhecia os segredos dela também, ela sofria por mim e eu sofria
por ela. Chamavam-me de afeminado por não sonhar em arrancar tripas dos ladrões
com uma espada e por andar sempre com uma garota, e as meninas da vila diziam
que ela era idiota por andar com um magrelo marica como eu, mas dane-se, nenhum
de nós se importava com isso, éramos o que éramos: felizes.
Os pensamentos arrombaram a porta do meu cérebro, e se ela
não sentisse o mesmo por mim? E se eu estragasse todo esse tempo de amizade com
minha idiotice? Eu era só um suja-botas condenado a passar a vida toda vendo
bundas de cabra balançando para um lado e pro outro. Ela escrevia, cantava e
era mais bela que o céu em noite estrelada... Ela não teria futuro ao meu
lado...
Ela pegou a mala, eu sentia como se dois gigantes lutassem
dentro do meu peito, meu corpo todo tremia vendo-a passar pela porta... Eu
perdi a razão.
Meu braço foi até o ombro dela e puxou-a para mim, eu fechei
os olhos com toda a força que me restava em meio a tanto nervosismo e
beijei-a... O tempo parou, eu apreciei ao Maximo a doçura e a suavidade dos
lábios dela encostando-se aos meus, nunca tinha feito aquilo antes, ela também
não... O filme de toda a nossa história se passou na minha mente, tive uma
sensação enorme de alivio e de felicidade extrema ao mesmo tempo, eu me senti
nervoso após alguns segundos. Pensei que era o fim de tudo, até que senti a
língua dela invadir minha boca e nossos corpos se encostarem, eu sentia meus
olhos ficarem úmidos... Abracei-a como uma criança abraça o seu ursinho de
pelúcia, sabia que era o nosso ultimo momento juntos, e isso me dava uma
sensação terrível... Ela aproximou-se do meu ouvido e disse:
- Promete que nunca vai esquecer nossos momentos... E que
nunca vai desistir daquilo que desejas?...
Eu fechei os olhos e falei a única coisa que me veio à mente
em meio a tanta confusão:
- Eu prometo.
Levei minhas mãos até os cabelos ruivos e macios dela, abri
meus olhos e encarei a carroça que chegava pelo caminho de terra, tomei uma
decisão naquela manhã:
Eu não seria um suja-botas pelo resto da vida.
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Se você leu até o fim, ligue para 0800 -08088-080 e ganhe um poster da madonna.Gente, esse texto foi feito por um dos meus personagens, ficou longo, eu sei. Acho que em breve vou postar outra parte, dependendo da paciência pra escrever e do tempo, claro.
Desculpem pelos vacilos