Kelvin Haltz decide Morrer
.....Certo dia, lembrei de uma entrevista em que eu disse não ter escolhido ser um guerreiro. Isso de fato é verdade. Nunca escolhi, mas sou. Desde essa não-decisão vivo assim, com o peso da culpa de nunca poder usar magias decentemente. Não critico os guerreiros que gostam do que fazem, critico a mim, pois minha escada nunca me ajudou a escrever uma frase em meus papéis.
.....Comecei a pesquisar sobre o uso de magia por guerreiros. Knights, dizem. Pouquíssimas. Não era isso que eu queria. Queria explodir-me em gelo, queria transformar-me em animal, queria ficar invisível com o estalar de meus dedos. Então, em um livro negro e empoeirado eu descobri como enganar os Deuses.
.....Dizem que quando um ser não está pronto para viver no continente, os Deuses - pff - o mandam de volta para a ilha do aprendizado, Rookgaard. E qual é um dos maiores fracassos da vida? A morte. Decidi então morrer. Morrer quantas vezes fosse preciso para enganá-los. Ou será que somente estou enganando a mim mesmo?
.....Eu, que nunca havia morrido, entreguei-me aos ratos no subsolo de Thais. A dor das mordidas em minha pele causavam-se arrepios. Isso não era morrer, era torturar-me. Por fim, um negro tomou meus olhos antes da luz dos sóis tornar a magoá-los.
Suspirei, a experiência era esquisita. Senti meu corpo mais fraco, mas eu estava determinado. Já havia provado de muitas coisas, mas devo dizer que a sensação de morrer era nova e interessante. Corri novamente até o mesmo bueiro. Veio o bréu e a luz.
.....Senti depois de um tempo que meus passos guiavam-se automáticos pelo caminho. Ver vários casulos de minha alma deitados no chão deixou-me perturbado, mas eu continuei, em algum momento isso haveria de funcionar.
.....Mas demorou.
.....Eu precisava fazer algo diferente, essas mortes não estavam surtindo efeito. Algo mais forte. Corri para leste de Thais, atravessei a porte dos anões e procurei o covil dos répteis nas redondezas. Queria algo mais estiloso. "Eu só quero morrer para um dragão". Eu disse para um dos sujeito que estava lá. "Não faça isso". Desculpe, meu amigo. Eu preciso.
.....Ao longe eu o avistei. Ele veio correndo em minha direção, de longe lançou seu fogo. Meu corpo chamuscou e eu senti que seria a última vez. A dor misturou-se com o prazer da vitória e eu abaixei minha cabeça para que ele enfim me matasse.
.....(...)
.....Quando abri os olhos a luz era mais forte. Eu estava próximo a um barco. Meus lábios abriram-se em sorriso involuntário, eu havia conseguido. Aquele que por anos nunca pode usar magia poderá refazer seus passos e se tornar um forte mago.
.....Caminhei para o centro de Rookgaard o mais depressa que pude, subi as escadarias da academia e entrei na sala com o tapete vermelho que terminava em uma estátua de mármore. Encarei-a.
.....Irreversível, é?
- Spoiler:
Desculpem-me a referência do título, haha.