Memórias
Batera o fulgor esbranquiçado da consciência ao meu pensamento naquela densa alvorada envolta do manto cinzento que era o céu.
A manhã não continha brilho, não haviam dos focos de luz que desciam por entre os prédios sujos de Thais refletindo os contrastes iluminados pelo orvalho que residia sobre as plantas já amareladas do tempo.
Acordava notando que o vento – por mais suave que aparentasse – atravessava-me com a intensidade de uma lâmina, rebatia as janelas contra as paredes numa dança psicótica que adornava as batidas gélidas do coração já pesado.
Qualquer um que adentrasse a casa de teto baixo poderia sentir os cabelos dançando como senti, sentir a brisa violenta que atravessava a pequena residência em espirais. Qualquer um que adentrasse a casa de paredes curtas poderia sentir ao ver-me recostado – revirado em panos pesados e já surrados – de ombros na parede encardida, que minh’alma pendia num mastro sem fim, onde as bordas não haviam, onde o topo seguia até os confins do sombrio.
Qualquer um que adentrasse a casa de cor escura poderia, ao fitar-me os olhos perdidos, que nada mais poderia ser feito, nada mais poderia ser resolvido.
- Domainy está morto...
Ecoava o sussurro do silêncio.
Nota: Texto feito por Gabriel.
